(...)
E muitas vezes, à meia-noite, rio
Sinistramente vendo o verme frio
Que há de comer a minha carne toda!
TEMPOS IDOS
Não enterres, coveiro, o meu Passado,
Tem pena dessas cinzas que ficaram;
Eu vivo d'essas crenças que passaram,
E quero sempre tê-las ao meu lado!
Não, não quero o meu sonho sepultado
No cemitério da Desilusão,
Que não se enterra assim sem compaixão
Os escombros benditos do Passado!
Ai! não me arranques d'alma este conforto!
- Quero abraçar o meu Passado morto
- Dizer adeus aos sonhos meus perdidos!
Deixa ao menos que eu suba á Eternidade
Velado pelo círio da Saudade,
Ao dobre funeral dos tempos idos!
A ESPERANÇA
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!